quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A palavra de Deus é o nosso alimento...

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu. Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».

Palavra da salvação.

Mensagem Semanal

«O dia depois de amanhã»

Só o «amanhã» é que é perto, como que ao alcance da nossa mão. Para o «depois», quase todas as tintas são válidas, embora esteja na moda pintar os cenários mais perturbadores sobre o poder destruidor da violência humana, ou sobre a morte das estrelas, destruição climática, supervulcões e supertsunamis (como no filme que dá o título). Os próprios cientistas afirmam que as catástrofes naturais vêm aí com toda a certeza, só não se sabe quando… Contudo, convém ter presente que o ser humano nunca pára na descoberta de si próprio e do mundo, alterando perspectivas, incluindo as religiosas, e até corrigindo o que parecia certo.

Com esta consciência de que todas as coisas são efémeras, e de que o próprio universo, com a sua estabilidade aparente, está sujeito à destruição, não é de estranhar que se tenha formado a «literatura apocalíptica» (do grego «Apocalipse», «revelação» ou «desvelamento»). Com estilo grandioso e imagens riquíssimas, não alheias à mitologia e simbologia iranianas, é uma literatura presente nas culturas mais diversas, tornando visível a estrutural comunhão entre todo o género humano quanto à interrogação sobre o futuro.

Os textos apocalípticos do judeo-cristianismo (continuados pelo islamismo) centram-se nos temas do Juízo final e da Salvação, e apresentam o Reino de Deus e o Novo Mundo como transfiguração do Universo, onde a própria morte será dominada. Terá pois um final feliz o «combate» entre as forças misteriosas do Bem e do Mal, da Vida e da Morte, apesar de os «filhos da luz» terem que sofrer devido à astúcia dos «filhos das trevas» (na terminologia do próprio Jesus Cristo). E a morte é a passagem não para um estado de vida inferior, mas sim de vida claramente próxima do que podemos entender por Luz, Alegria, Bem-estar.

Há muitos apocalipses, antes e depois de Cristo, todos eles reflectindo a mesma inquietação e esperança. A maioria, contudo, não é aceite como canónica (ou seja, não é representativa ou até está em desacordo com o «núcleo duro» da doutrina em questão).

Ao termo de «apocalíptica» junta-se o de «escatologia» («estudo dos últimos acontecimentos», em grego): traduz, sobretudo, o olhar que o ser humano dirige à sua volta, alcançando o sentido e interesse da consideração da morte e da crença numa vida eterna. Não deve haver hiato entre este futuro e o presente: a crença optimista num «combate escatológico» em que o Bem vence o Mal, dá força para ir travando esse combate no presente. Deste modo, se vai desde já acelerando o «mundo novo», sob a luz da justiça (o «reino» de Deus, como se diz no Pai Nosso).

Com a aproximação do final do ciclo litúrgico, os textos dominicais manifestam cada vez mais pendor apocalíptico e escatológico. Curiosamente, estes «palavrões» tão obscuros designam justamente o fim da obscuridade em que vivemos.

Manuel Alte da Veiga