sábado, 6 de fevereiro de 2010
Notas de Interesse...
SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO
6. Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos «natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade».[9] Nas suas páginas iniciais, o livro do Génesis introduz-nos no projecto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus, que, no vértice, colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para «encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus (cf. Gn 1, 28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Génesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso»,[10] enquanto a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o Qual lhe traçou os ordenamentos intrínsecos a fim de que o homem pudesse deduzir deles as devidas orientações para a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15).[11] Tudo o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, «mais tiranizada que governada por ele».[12] O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a.[13]
A Palavra de Deus é o nosso alimento...
Mensagem Semanal
«Afasta-te de mim!»
«Afasta-te de mim!» Diz-se em voz alta, mas sobretudo para dentro: quando nos calha um intruso, um passante inoportuno, um “amigo” rémora, um namorado que não encaixa, o cônjuge que já não queremos ao lado… Até desejaríamos poder dizê-lo às ideias obsessivas aos ideais incómodos e à nossa consciência. Dizemo-lo tanto por orgulho como por falsa humildade: tanto nos achamos senhores supremos das nossas escolhas sem termos que dar atenção aos outros, como nos achamos incapazes de realizar o que desejamos e de colaborar num plano comunitário. Por outro lado, verdade seja dita que, de vez em quando, precisamos de nos afastar na tranquilidade do nosso cantinho. A Isaías também lhe calhou uma presença estranha, pertinazmente importuna e ainda por cima como que “mascarada”: a do Senhor Deus no seu esplendor, que os olhos humanos nunca podem ver claramente. Apenas os «seres ardentes» (significado do termo hebraico «serafim») a conseguem cantar, chamando-Lhe três vezes (ou seja, perfeitissimamente) «Santo» – uma fórmula de culto já anterior a Isaías e não exclusiva do judaísmo.
Havia razão para ter medo: acreditava-se que a visão da transcendência divina era de tal modo tremenda que podia aniquilar o ser humano. Por isso, esse profeta precisou de muita coragem (ou terá tido o atrevimento) para aceitar o desafio que lhe fora lançado pelo próprio Deus – mas sobretudo porque teve a experiência de que o encontro com Deus também podia purificar os humildes, pondo a força divina no seu coração. Partiu então a pregar a «santidade de Deus», «o Santo de Israel».