sábado, 3 de outubro de 2009

Mensagem Semanal

Solidão: mói e mata.
Os textos que a Igreja nos propõe neste domingo falam da relação homem-mulher (1.ª leitura e evangelho), que, para a maior parte da humanidade, é uma relação fundamental. Para absorver mais a mensagem destas leituras seriam importantes duas coisas: saber um pouco de hebraico (veríamos então alguns jogos de linguagem, como o que relaciona as palavras “homem” e “mulher”; e notaríamos que o homem ao ver a mulher fala em verso – torna-se poeta); e notar que entre a cultura dos tempos bíblicos e a de hoje há continuidade e diferença. Mas a Palavra de Deus mostra igualmente o seu valor em interpretações com menor bagagem cultural. Essa é uma das vantagens e características da palavra inspirada. Dá-se a todos os que lhe abrem o coração.Continuidade: naquele tempo, como hoje, a relação homem-mulher continua a ser fundamental. A solidão, quando não é desejada e não se lhe dá um sentido, continua a ser prejudicial. Raramente é bom que o homem ou a mulher estejam sós. A solidão só é boa para criar fantasmas. Mais continuidade: a mulher era o elo mais fraco, tal como hoje. O divórcio significava que a mulher iria cair na pobreza.Diferença: no tempo de Jesus, os jovens primeiro casavam-se (por vontade dos pais, do clã, da tribo) e só depois vinha o amor. O amor era uma construção, um caminho. Hoje, primeiro vem o amor (sem imposição dos pais) e só depois surge o casamento. O amor-paixão é considerado um achado, um ponto de partida ou uma meta sem caminho, e é, com frequência, origem de muitos equívocos, até porque, para a Igreja, para haver casamento é preciso haver vontade dos que se casam (não se pergunta pelo amor), quando a mentalidade reinante diz que basta haver amor (e por isso, sem amor, tem dificuldade em conceber que duas pessoas continuem casadas).Nestes tempos confusos, como nos ilumina a palavra de Deus?Primeiro, com a afirmação que alguns dizem ser uma das cinco mais importantes da Bíblia (adaptamo-la): “Não é bom que o ser humano esteja”. Para o homem existe a mulher. E vice-versa. E, num sentido mais lato, para a humanidade existe Deus. Não é bom que a humanidade esteja só. E não está. Tem Deus. E tem o Filho de Deus. E a Mãe de Deus.Esta maldade da solidão é hoje um apelo à acção dos cristãos. Há muitas pessoas que estão sós. E não é por opção. A solidão dos idosos é um drama de dores insuportáveis, uma injustiça que muitos filhos cometem. Podem ter álibis (o trabalho, a falta de espaço na casa…), mas nunca teriam justificação se tivessem sensibilidade. Para os cristãos, consolar alguém em solidão será sempre uma obra de misericórdia. E não custa dinheiro.Segundo, apontando para o ideal do princípio da criação: “Os dois serão uma só carne”. Qualquer par humano que decide partilhar a vida está, seja qual for a época histórica, basicamente como Adão e Eva: no início de uma nova humanidade. Se o coração não se tornar duro (é essa a crítica de Jesus aos discípulos), a história será admirável.

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