sábado, 28 de novembro de 2009

Mensagem Semanal

Já um cheirinho a Natal
Nos antigos natais da aldeia, este domingo trazia o primeiro cheirinho a Natal, feito de castanhas e de vaga inquietação por onde buscar o melhor musgo, por qual o canto mais lindo para o presépio e por onde param e como estarão as figurinhas e outros adereços – tudo isto no embalo das palavras misteriosas da liturgia em latim. Até nem se reparava no estilo duro e apocalíptico do Evangelho, adormecendo no conforto da Leitura de Jeremias! A própria carta de S. Paulo, que nos exorta à firmeza no progresso do amor e de outras virtudes, mais parecia uma coroa de flores a oferecer ao «rebento justo», ao «Menino Jesus». E contudo, a passagem do evangelho de hoje marca o final do ministério de Jesus em Jerusalém, sendo imediatamente seguido pelo relato da Paixão. O «Menino Jesus» exprime a fraqueza própria do «filho de homem» (imagem muito presente nos domingos anteriores) – mas também o lado paradoxal da mesma expressão: o poder e a glória do autêntico «justiceiro», que virá sobre as nuvens impenetráveis ao nosso conhecimento e compreensivelmente temerosas para toda a humanidade. Por isso exclamava Simeão, ao pegar ao colo em Jesus recém-nascido (Lucas, 2, 29-35): «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição». O encontro definitivo com ele não nos pode apanhar desprevenidos: temos que o saber esperar «de pé como as árvores» carregadas de bom fruto. Há pois que «desconfiar» da inocência e graça do «Menino Jesus»… Ele não é o boneco lindinho à venda nas feiras, nem sequer um daqueles bebés lindos a valer, que quase se confundem com o colo da mãe, se possível ainda mais linda. Iremos nós ao encontro do «Menino a sério», como os «Reis Magos»? E saberemos tirar proveito desse encontro, como o fazia a «Mãe a sério» do «Menino a sério» – guardando todos estes estranhos acontecimentos «no seu coração», para reflectir calmamente sobre o que poderiam significar? (Lucas, 2, 51; 1, 29). Ou acharemos mais cómodo e prudente matar o menino, como quis o rei Herodes – «o tal (no dizer de Miguel Torga) que não gostava de crianças»? A primeira leitura não é original de Jeremias mas de um discípulo. Trata-se de um cântico tipicamente messiânico, presente noutros lugares dos livros do Antigo Testamento, prometendo ao povo de Israel que Deus fará nascer um «rebento de justiça» para o dirigir com rectidão. Na perspectiva religiosa desta época (destruição de Jerusalém pelo império babilónico, em 587, e subsequente cativeiro), o Messias (rei-sacerdote) nasceria da seiva de David, cabendo-lhe juntar o direito e a justiça. Dentro dos parâmetros da cultura do tempo, o Direito legitima a imposição da autoridade e do julgamento. Mas precisa da Justiça para que não se exerça o poder arbitrariamente, oprimindo os que menos se podem proteger. Manuel Alte da Veiga

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