sábado, 23 de janeiro de 2010

Mensagem Semanal

O Homem que lia a Escritura

Fechou o Livro e, fixando os ouvintes, disse em voz clara e calma: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Todos fixavam os olhos nele – mas o resto da história só será contado no domingo seguinte. Este Homem guardava atrás de si uma longa tradição: Esdras e Neemias (meados do s. VI a.C.) também eram homens que sabiam ler as escrituras (competia aos levitas o estudo da Palavra da Deus). A 1.ª leitura, aliás, marca o começo histórico do Judaísmo: até então, algumas das doze tribos de Israel misturavam-se com os povos vizinhos, o que repugnava aos mais ortodoxos, por ser contra as disposições recebidas por Moisés – daí o desprezo dos Judeus pelos Samaritanos; o exílio despertara os mais ricos traços de espiritualidade, sobretudo através dos profetas; mas o regresso à «terra prometida» foi quase só de membros da tribo de Judá: nasceu assim o movimento judaico. Porém, nunca mais os Judeus foram independentes como nação, excepto alguns anos durante a campanha dos Macabeus (séc. II a. C.). Ficaram apenas como uma comunidade religiosa com regalias especiais e separada dos outros povos. Os «retornados» choravam ao escutar a leitura clara e bem explicada pelos Levitas (1.ª leitura). Choravam como sinal de penitência, segundo um costume religioso que ainda hoje se reflecte na liturgia da Quaresma. Também chorariam de saudade. Foi então que o Homem que nesse tempo lia a Escritura (Esdras) lembrou bem alto que não era um dia de tristeza, mas da alegria que vem da força do Senhor. No Evangelho de hoje, o Homem que lia a Escritura (Jesus) encontrou a passagem de Isaías própria da entronização de um profeta: é o Espírito do Senhor que o leva a anunciar a Boa Nova aos pobres e a libertar os oprimidos e a proclamar um ano de jubileu. (S. Lucas é muito livre na organização do seu material; até a citação de Isaías é uma combinação de temas dos capítulos 58 e 61). Na linha dos antigos profetas, este evangelista é muito terra-a-terra ao referir a organização injusta da sociedade: há gente sem meios de subsistência, há vítimas de extorsões abusivas e da má-fé de jogadas tanto políticas como económicas

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